quarta-feira, 14 de maio de 2014

          A organização das linhas no espaço corresponde a determinadas zonas na Terra, por largos ciclos no tempo. Atendem-se, ao constituí-las, as variações de cultura moral e intelectual, aproveitando-se as entidades mais afins com as populações dessas paragens. Por isso, o espiritismo de linha se reveste, nos diversos países, de aspectos e característicos regionais.
       Nas falanges da Linha Branca de Umbanda e Demanda já se identificaram índios de quase todas as tribos brasileiras, sendo que numerosos foram europeus em encarnações anteriores; pretos da África e da Bahia, portugueses, espanhóis, muitos ilhéus malaios, muitíssimos hindus.
    Pode-se, no terreiro de Umbanda, estudando-se as manifestações de caboclos e pretos, estabelecer as diferenças raciais, distinguir as tendências das mentalidades desses dois ramos da árvore humana, surpreender os costumes de seus povos e comparar as duas psicologias.
       O caboclo autêntico, vindo da mata, através de um aprendizado no espaço, para a Tenda, tem o entusiasmo intolerante do cristão novo, é intransigente como um frade, atirando a face os nossos defeitos e até com as nossas atitudes se mete. Ouvindo queixas dos que sofrem as agruras da vida, responde zangado que o espiritismo não é para ajudar ninguém na vida material, e atribui os nossos sofrimentos a erros e faltas que teremos de pagar. Mas, em dois ou três anos de contato com as misérias amargas de nossa existência, suaviza a sua intransigência e acaba ajudando materialmente os irmãos encarnados, porque se condói de sua penúria e deseja vê-los contentes e felizes.
  O preto, que gemeu a eito sob o bacalhau do feitor, esse não pode ver lágrima que não chore, e quase sempre sai a desbravar os caminhos dos necessitados, antes que lhe peçam. O negro da África difere um pouco do da Bahia; aquele, na sua bondade, auxilia a quem pode, porém, às vezes, se irrita com os jactanciosos e com os ingratos, mas o da Bahia, em casos semelhantes, enche-se de piedade, pensando nas dificuldades que os maus sentimentos vão levantar na estrada de quem os cultiva.
       A Linha Branca de Umbanda e Demanda tem o seu fundamento no exemplo de Jesus, expulsando a vergalho os vendilhões do templo. Às vezes, é necessário recorrer à energia para reprimir o sacrilégio, consistente na violação das leis de Deus em prejuízo das criaturas humanas.
       O homem prejudica o seu semelhante por inconsciência, ignorância ou maldade. Nos dois primeiros casos, a Lei de Umbanda, manda esclarecer a quem está em erro, até convencê-los de sua falta, impedindo-o, desde logo, de continuar a sua ação maléfica. No segundo caso, reprime singelamente o perverso.
       [...]
        O objetivo da Linha Branca de Umbanda e Demanda é a prática da caridade, libertando de obsessões, curando as moléstias de origem ou ligação espiritual, desmanchando os trabalhos de magia negra, e preparando um ambiente favorável a operosidade de seus adeptos.
       Os sofrimentos que nos afligem são uma prova, ou provação, ou provém dos nossos próprios erros, ou da maldade dos outros. Em caso de prova, temos de suportá-la até o limite extremo, e os filhos de Umbanda procuram atenuá-las, ensinando-nos a resignação, mostrando-nos a bondade de Deus, que nos permite o resgate de nossas culpas sem puni-las com penalidades eternas, descrevendo-nos os quadros de nossa felicidade futura. Se as nossas dores e dificuldades significam consequências de nossas faltas, os protetores de Umbanda nos aconselham a repará-las, conduzindo-nos com amor e paciência, ao arrependimento. Na terceira hipótese, reprimem energicamente os malvados que nos perseguem do espaço para cevar ódios da Terra. Nas angústias de nossa vida material, afastam de nosso ambiente, purificando-o os fluidos da inveja, da cobiça, da antipatia e da inimizade.
       O tratamento da obsessão, as curas
das doenças de natureza espiritual, constitui os trabalhos de caridade; os outros, os de demanda; porém, os dois são absolutamente gratuitos. Se algum médium se esquece de seus deveres e recebe dinheiro, ou coisa correspondente, pela caridade feita, pelo seu protetor, este se retira, abandonando-o à entidades que em geral o reduzem a miséria.
       A hierarquia, na Linha Branca, é positiva, mantendo-se com severidade. Todos os seus dirigentes espirituais proclamam e reconhece a autoridade de Ismael, guia do espiritismo no Brasil.
       A incorporação é sempre um fenômeno complexo, que se processa mediante acidente psicológico, físico e espiritual, e tem na Linha Branca de Umbanda a expressão máxima de sua transcendência. Vulgarmente, basta que o espírito se assenhoreie dos órgãos cerebrais, vocais, e manuais, ou de todos os chamados nobres, para fazer a comunicação verbal ou escrita, e dar passes. Na Linha Branca, precisa apropriar-se de todo o organismo do médium, porque nesse corpo vai viver materialmente algumas horas, movendo-se, utilizando-se de objetos, às vezes suportando pesos. A incorporação na Linha Branca é quase uma reencarnação, no dizer de um espírito.
       Dir-se-á que todos os socorros prestados pela Linha Branca poderiam sê-lo, sem os seus trabalhos, pelos altos guias, pelos espíritos superiores.
       Os espíritos de luz que baixam à Terra, e se conservam em nossa atmosfera orientam falanges ou desempenha outras missões, e não contrariam, nem poderiam contrariar, desígnios em que se enquadram as funções de todos os servos da fé, grandes ou pequeninos, se em algumas situações lhes é permitido exercer a sua ação instantânea em favor de quem soube merecê-la, na maioria das circunstâncias deixam o indivíduo, pelas faltas do passado ou pelas culpas do presente, submeter-se ao que lhe parece uma degradação.
       Estamos numa época amargurada de arrogante orgulho intelectual e insolente vaidade mundana, e, para abater a propagação desses orgulhosos, os episódios de suas existências se encadeiam de modo a arrastá-los a implorar e a receber a misericórdia de Deus, por intermédio dos espíritos mais atrasados, ou que como tais se apresentam.

Extraído do livro: O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda; 1933

Autor: Leal de Souza